meus olhos são vícios do fim
veem adiante — o desenlace e a dor —
e no meu vocabulário da solidão
distância e abandono são duas palavras que cabem
dentro do medo (embora ele só tenha quatro letras)
***
“está tudo bem”, você diz, vocês dizem
enquanto as sombras do mistério produzem
suas formas por aí — silenciosas, nas pontas dos pés
encarcerando o presente num bloco de cimento maciço
***
sepultando a alegria em fotografias de dentes abertos
as cores de carnaval derretem nas chuvas de barro
e o meu coração amolece batendo dentro do temporal
(o rio já é mar quando se encontra com ele,
os barcos precisam das cordas para não irem embora)
faz-se o desassossego — escrevo meu nome num canto da areia
***
e então peço que alguém chame por ele
Ivana de Lima Fontes tem sangue de Aracaju e sotaque de Maceió. Já fez música, já fez direito, já fez matéria sobre emagrecimento e só nunca deixou de fazer poesia. É graduanda em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Conheça também seu trabalho no Medium.